ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil deve apresentar hoje à
Câmara dos Deputados uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que torna
obrigatória a presença de um defensor para o cidadão desde o inquérito policial.
Assim, um réu sem recursos para contratar um advogado teria a defesa
oferecida gratuitamente pelo Estado durante a investigação da polícia. Isso é
oferecido hoje ao cidadão apenas na fase de tramitação do processo judicial.
Segundo a proposta, a defesa poderá ser feita por um defensor público ou
advogado nomeado por um juiz, em caso de falta de um defensor.
Ainda pela proposta, que será apresentada por meio da Frente Parlamentar dos
Advogados, o advogado passará a ter direitos como fazer pedidos de investigações
ou lista dúvidas para serem respondidas pela perícia, dentro do inquérito, sob
"pena de nulidade".
Para o presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho,
o principal objetivo é assegurar o direito da ampla defesa e evitar
indiciamentos e denúncias desnecessárias.
"Pode ser que o promotor e o delegado se convençam com as explicações do
investigado e deixem de apresentar a denúncia. O que diminuiria o número de
processos na Justiça", disse. "Hoje, os pobres são investigados sem qualquer
assistência porque isso não é obrigatório".
Segundo ele, a ideia não é obrigar a polícia a esperar a apresentação dessa
defesa logo no início das investigações. Poderia ser feito, segundo ele, antes
de o delegado finalizar o inquérito para encaminhar à Promotoria.
"O que pode ser uma burocracia agora, pode evitar um indiciamento injusto,
uma denúncia injusta. Porque você vai ter o esclarecimento dos fatos",
completou.
O defensor Renato De Vitto, indicado pela Defensoria Pública de São Paulo
para falar sobre o assunto, disse que essa PEC "representa um avanço" porque é
"quase unanimidade na doutrina moderna" a admissão do contraditório na fase
policial.
Vitto admite que, mesmo se mudança for aprovada, a Defensoria paulista teria
muita dificuldade para participar em todos os inquéritos policiais, já que tem
pouco mais de 300 defensores atuando na área criminal no Estado.
"Não é a aprovação disso que vai mudar a realidade, que a gente vai se tornar
aparelhado. Mas na medida em que o Estado melhora o desenho do que espera das
instituições, a gente vai buscar uma adaptação de nossas atribuições", afirmou.
E continua. "Assim, é possível avançar na melhoria da defesa dessas pessoas
investigadas pela polícia. Hoje, a rigor, salvo os que têm dinheiro, não se tem
defesa nenhuma. A PEC é absolutamente justa, merece elogio".
CRÍTICAS
O presidente da Associação Paulista do Ministério Público, Felipe Locke
Cavalcanti, disse considerar a medida um "paliativo" e um caminho equivocado na
busca de uma Justiça mais rápida.
"Não vai resolver. O problema é o tipo de investigação que nós temos hoje,
que é um processo inquisitorial da polícia. O que nós precisamos é um processo
acusatório pleno, com o Ministério Público produzindo a prova, a defesa com
amplo direito de defesa. Você precisa mudar o sistema de processo penal."
O promotor disse ver uma posição contraditória da OAB na proposição dessa PEC
porque ela defendia que "provas feitas na fase inquisitória não valessem".
"Me preocupa esse tipo de iniciativa porque burocratiza mais o processo em
vez de dar uma celeridade, o que todo mundo deseja".
A delegada Marilda Pansonato Pinheiro, presidente da Associação dos Delegados
de São Paulo, disse considerar o tema complexo e que requer uma discussão ampla.
"Não pode haver interferência na busca da verdade real, que é o que nós fazemos.
O delegado não acusa nem defende. Busca a verdade", afirmou.
Para a policial, deve haver o cuidado para não trazer para o inquérito a fase
processual. "Se o delegado indeferir um pedido de uma diligência [etapa da
investigação] que considere protelatória, e aí? O advogado vai se valer do
Judiciário para que o Judiciário interfira nessa fase? Isso é mero exemplo,
muitos outros podem acontecer", questionou.
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