Os cenários foram preparados minuciosamente por 22 professores da Acadepol para simular situações de ocorrências reais de tráfico de entorpecentes, violência doméstica, homicídio e crime eletrônico com pedofilia. Alguns desses professores fazem o papel de vilões - são traficantes, donos de bar, homicidas e até parentes de criminosos que gritam e formam uma grande confusão para atrapalhar os policiais novatos.
A ambientação dos locais onde as cenas ocorrem inclui o uso de vestimentas, gírias e falas características. Outros professores monitoram cada grupo de alunos e anotam o desempenho de cada um. No final de cada clínica, debatem os pontos positivos e negativos com os grupos. As ocorrências são concluídas com o registro na delegacia simulada, para que o aluno “saiba tipificar os fatos juridicamente e propiciar uma base sólida às investigações”, explica a delegada Ana Paula de Bem Bittencourt Ribeiro, coordenadora do grupo de violência doméstica.
Confusão no boteco
Os vinte alunos foram divididos em grupos de cinco, cada qual coordenado por um professor. Na clínica de tráfico de entorpecentes, coordenada pelo delegado Ricardo de Mello Vargas, o cenário é um boteco. O objetivo é prender o traficante Pezão e apreender drogas.
O grupo deve decidir tudo por conta própria, desde a escolha de líderes, a forma de interagir no “bar”, como abordar os suspeitos, fazer revistas pessoais e até prender traficantes. Os alunos que não agem da forma correta são “mortos” por tiros dados pelos traficantes. “É uma simulação da vida real na qual se pode morrer várias vezes ao dia, de mentirinha, para aprender a não morrer na vida real”, observa Vargas.
O dono do bar, protagonizado pelo perito Wilson Vieira, faz de tudo para atrapalhar os novos delegados, gritando pelos seus “direitos” e dando informações erradas. Depois de algumas indecisões, o grupo o revista e não encontra uma tesoura escondida numa perna. Enquanto vistoriam o bar à procura de drogas, são surpreendidos por “tiros” dos “traficantes”. Os estampidos vêm de vários locais e “matam” alguns alunos, que são então retirados de cena. Em número reduzido, o restante tem de socorrer os “feridos” e terminar a ocorrência.
Sala de seis lados
Os policiais entram na sala, “trocam” tiros, prendem dois suspeitos e localizam maconha e cocaína num cesto de lixo, nas frestas de uma janela, atrás da porta e até mesmo na borracha de um rodo. Tudo é fotografado e coletado para fundamentar as provas contra os traficantes. Uma lição do delegado Vargas, que já atuou em várias ocorrências de tráfico na sua carreira:
“Uma sala tem seis lados” (incluindo o teto e o chão), e todos devem ser observados, numa referência aos “atiradores” e ao entorpecente escondido nesses locais. Na avaliação, os professores comentam erros e acertos. Eles saíram-se bem e estão confiantes para assumir a responsabilidade de ser uma autoridade policial.
Mulher espancada
É a vez da clínica de violência doméstica. Outro grupo de alunos fica incumbido de dar cumprimento a um mandado de prisão na “Comunidade da Paz”, onde não faltam nem bar nem som alto. Quando entram para dar cumprimento ao mandado, são surpreendidos por situação de violência doméstica. Gritos de uma idosa vêm de um barraco, onde é espancada pelo amante da filha.
Eles se dividem para ir ao barraco do fugitivo da Justiça e socorrer a mulher. Detém o agressor, apreendem uma arma de fogo e CDs piratas. A perita Renata Baptista Sapience, no papel de filha da idosa e amante o suspeito, é conivente com as agressões e também acaba presa. A ambientação é impecável: as casas e vielas fazem o aluno sentir-se “numa situação real”.
Os professores estão caracterizados com perucas, óculos de sol, marcas de ferimentos e tatuagens. “Isso aguça a percepção do policial”, comenta a coordenadora. Na avaliação, os novos delegados descobrem que “o policial é surpreendido pela situação e devem tomar uma decisão rapidamente”.
Homicídio no Bar
Um policial militar (o papel é do delegado Luiz Fernando Zambrana Ortiz) vai à “delegacia”, onde estão outros cinco alunos, e diz que há uma ocorrência de “encontro de cadáver”. Pelo rádio transmissor (HT), um aluno se comunica com o Centro de Comunicações e Operações (Cepol) - quem atende no outro rádio é o professor Rodney Charles Miller, que dá aulas teóricas de telecomunicações no curso de formação.
São orientados para irem até o local de homicídio para fazer uma recognição visiográfica (verificação visual no local). O corpo, um boneco usado em treinamento de primeiros-socorros, está a poucos metros do Bar do Ceará. Nesse crime, a vítima morreu com um tiro na nuca. Na sua carteira há um documento e um pouco de droga.
“Facção criminosa”
Detalhe importante é que tem uma tatuagem no peito, que deve ser interpretada pelos alunos mais atentos que isso pode relacionar o morto a uma facção criminosa a que pertence, ou se já foi presidiário, por exemplo. O dono do bar, “Ceará” (perito Orlando Ruiz), diz que chegou cedo e encontrou o morto. Nada sabe sobre o homicídio. Chegam uma perita e o carro de cadáver.
Descobre-se que há um leve rastro de sangue da porta do bar até o corpo. E dentro do bar há uma lata de solvente, sugerindo que o local foi lavado (esses indícios são modificados a cada turma). No bar também são encontrados drogas e uma bolsa com couro de cobra, que caracteriza crime ambiental, fato que deve ser notado pelos alunos e como agir nessa nova situação (investigam um homicídio e surge um delito do meio ambiente).
Na parede do estabelecimento, vê-se a mesma tatuagem encontrada no morto, além de um número que identifica uma “facção criminosa de outro estado”. O caso está sendo solucionado. Ceará é levado para a delegacia como principal suspeito. Registra-se boletim de homicídio consumado, tráfico de drogas e crime ambiental. Os indícios são anotados de forma e levar a investigação a descobrir o possível autor do crime. Missão cumprida.
Pedofilia
Nessa clínica de pedofilia e crime eletrônico, uma mulher vai até a delegacia e relata que sua filha de dez anos foi fotografada seminua por um homem que se diz fotógrafo. Na casa do suposto fotógrafo ficou um hipopótamo de pelúcia da criança. Os alunos vão até o local e encontram dois homens, um dos quais tenta sair do imóvel com vários dvds.
O outro está mexendo num computador, onde são encontradas numerosas fotos de crianças. Apesar da resistência da dupla, que grita, gesticula e pede pelos seus advogados, os novos delegados apreendem o computador, uma mochila com roupas íntimas infantis, brinquedos e o hipopótamo de pelúcia. Debaixo de um colchão são encontrados preservativos. A dupla é detida por prática de pedofilia e crime eletrônico.
“O melhor dia”
Após a avaliação, os alunos se mostraram muito agradecidos pelo dia inteiro de prática de polícia operacional e judiciária. “Pela primeira vez me senti policial”, disse Jonatas Oliveira. Para João Paulo, foi “meu melhor dia de aula”. A prática “sintetizou tudo que aprendemos em sala de aula”, definiu Jorge Luiz Fernando. “Muito real”, exclamou José Gonçalves. Todos concordaram que a clínica de práticas é essencial para completar a formação teórica dada em salas de aula.
A coordenadora geral das clínicas de polícia Judiciária é a delegada Márcia Heloísa Mendonça Ruiz, assistente na Academia de Polícia Civil em São Paulo. Na Acadepol de Mogi das Cruzes, o responsável é o delegado Cláudio José Meni. Esses exercícios têm o apoio do diretor da Acadepol, delegado Mario Leite, e do delegado geral Mauricio Blazeck de Souza. Para Mario Leite, “o policial civil bem formado e bem treinado, experiente em investigação, é um amigo do cidadão”.
A ambientação dos locais onde as cenas ocorrem inclui o uso de vestimentas, gírias e falas características. Outros professores monitoram cada grupo de alunos e anotam o desempenho de cada um. No final de cada clínica, debatem os pontos positivos e negativos com os grupos. As ocorrências são concluídas com o registro na delegacia simulada, para que o aluno “saiba tipificar os fatos juridicamente e propiciar uma base sólida às investigações”, explica a delegada Ana Paula de Bem Bittencourt Ribeiro, coordenadora do grupo de violência doméstica.
Confusão no boteco
Os vinte alunos foram divididos em grupos de cinco, cada qual coordenado por um professor. Na clínica de tráfico de entorpecentes, coordenada pelo delegado Ricardo de Mello Vargas, o cenário é um boteco. O objetivo é prender o traficante Pezão e apreender drogas.
O grupo deve decidir tudo por conta própria, desde a escolha de líderes, a forma de interagir no “bar”, como abordar os suspeitos, fazer revistas pessoais e até prender traficantes. Os alunos que não agem da forma correta são “mortos” por tiros dados pelos traficantes. “É uma simulação da vida real na qual se pode morrer várias vezes ao dia, de mentirinha, para aprender a não morrer na vida real”, observa Vargas.
O dono do bar, protagonizado pelo perito Wilson Vieira, faz de tudo para atrapalhar os novos delegados, gritando pelos seus “direitos” e dando informações erradas. Depois de algumas indecisões, o grupo o revista e não encontra uma tesoura escondida numa perna. Enquanto vistoriam o bar à procura de drogas, são surpreendidos por “tiros” dos “traficantes”. Os estampidos vêm de vários locais e “matam” alguns alunos, que são então retirados de cena. Em número reduzido, o restante tem de socorrer os “feridos” e terminar a ocorrência.
Sala de seis lados
Os policiais entram na sala, “trocam” tiros, prendem dois suspeitos e localizam maconha e cocaína num cesto de lixo, nas frestas de uma janela, atrás da porta e até mesmo na borracha de um rodo. Tudo é fotografado e coletado para fundamentar as provas contra os traficantes. Uma lição do delegado Vargas, que já atuou em várias ocorrências de tráfico na sua carreira:
“Uma sala tem seis lados” (incluindo o teto e o chão), e todos devem ser observados, numa referência aos “atiradores” e ao entorpecente escondido nesses locais. Na avaliação, os professores comentam erros e acertos. Eles saíram-se bem e estão confiantes para assumir a responsabilidade de ser uma autoridade policial.
Mulher espancada
É a vez da clínica de violência doméstica. Outro grupo de alunos fica incumbido de dar cumprimento a um mandado de prisão na “Comunidade da Paz”, onde não faltam nem bar nem som alto. Quando entram para dar cumprimento ao mandado, são surpreendidos por situação de violência doméstica. Gritos de uma idosa vêm de um barraco, onde é espancada pelo amante da filha.
Eles se dividem para ir ao barraco do fugitivo da Justiça e socorrer a mulher. Detém o agressor, apreendem uma arma de fogo e CDs piratas. A perita Renata Baptista Sapience, no papel de filha da idosa e amante o suspeito, é conivente com as agressões e também acaba presa. A ambientação é impecável: as casas e vielas fazem o aluno sentir-se “numa situação real”.
Os professores estão caracterizados com perucas, óculos de sol, marcas de ferimentos e tatuagens. “Isso aguça a percepção do policial”, comenta a coordenadora. Na avaliação, os novos delegados descobrem que “o policial é surpreendido pela situação e devem tomar uma decisão rapidamente”.
Homicídio no Bar
Um policial militar (o papel é do delegado Luiz Fernando Zambrana Ortiz) vai à “delegacia”, onde estão outros cinco alunos, e diz que há uma ocorrência de “encontro de cadáver”. Pelo rádio transmissor (HT), um aluno se comunica com o Centro de Comunicações e Operações (Cepol) - quem atende no outro rádio é o professor Rodney Charles Miller, que dá aulas teóricas de telecomunicações no curso de formação.
São orientados para irem até o local de homicídio para fazer uma recognição visiográfica (verificação visual no local). O corpo, um boneco usado em treinamento de primeiros-socorros, está a poucos metros do Bar do Ceará. Nesse crime, a vítima morreu com um tiro na nuca. Na sua carteira há um documento e um pouco de droga.
“Facção criminosa”
Detalhe importante é que tem uma tatuagem no peito, que deve ser interpretada pelos alunos mais atentos que isso pode relacionar o morto a uma facção criminosa a que pertence, ou se já foi presidiário, por exemplo. O dono do bar, “Ceará” (perito Orlando Ruiz), diz que chegou cedo e encontrou o morto. Nada sabe sobre o homicídio. Chegam uma perita e o carro de cadáver.
Descobre-se que há um leve rastro de sangue da porta do bar até o corpo. E dentro do bar há uma lata de solvente, sugerindo que o local foi lavado (esses indícios são modificados a cada turma). No bar também são encontrados drogas e uma bolsa com couro de cobra, que caracteriza crime ambiental, fato que deve ser notado pelos alunos e como agir nessa nova situação (investigam um homicídio e surge um delito do meio ambiente).
Na parede do estabelecimento, vê-se a mesma tatuagem encontrada no morto, além de um número que identifica uma “facção criminosa de outro estado”. O caso está sendo solucionado. Ceará é levado para a delegacia como principal suspeito. Registra-se boletim de homicídio consumado, tráfico de drogas e crime ambiental. Os indícios são anotados de forma e levar a investigação a descobrir o possível autor do crime. Missão cumprida.
Pedofilia
Nessa clínica de pedofilia e crime eletrônico, uma mulher vai até a delegacia e relata que sua filha de dez anos foi fotografada seminua por um homem que se diz fotógrafo. Na casa do suposto fotógrafo ficou um hipopótamo de pelúcia da criança. Os alunos vão até o local e encontram dois homens, um dos quais tenta sair do imóvel com vários dvds.
O outro está mexendo num computador, onde são encontradas numerosas fotos de crianças. Apesar da resistência da dupla, que grita, gesticula e pede pelos seus advogados, os novos delegados apreendem o computador, uma mochila com roupas íntimas infantis, brinquedos e o hipopótamo de pelúcia. Debaixo de um colchão são encontrados preservativos. A dupla é detida por prática de pedofilia e crime eletrônico.
“O melhor dia”
Após a avaliação, os alunos se mostraram muito agradecidos pelo dia inteiro de prática de polícia operacional e judiciária. “Pela primeira vez me senti policial”, disse Jonatas Oliveira. Para João Paulo, foi “meu melhor dia de aula”. A prática “sintetizou tudo que aprendemos em sala de aula”, definiu Jorge Luiz Fernando. “Muito real”, exclamou José Gonçalves. Todos concordaram que a clínica de práticas é essencial para completar a formação teórica dada em salas de aula.
A coordenadora geral das clínicas de polícia Judiciária é a delegada Márcia Heloísa Mendonça Ruiz, assistente na Academia de Polícia Civil em São Paulo. Na Acadepol de Mogi das Cruzes, o responsável é o delegado Cláudio José Meni. Esses exercícios têm o apoio do diretor da Acadepol, delegado Mario Leite, e do delegado geral Mauricio Blazeck de Souza. Para Mario Leite, “o policial civil bem formado e bem treinado, experiente em investigação, é um amigo do cidadão”.
Gabriel Rosado
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