Efetivo de projeto da Prefeitura passou de 3.439 para 1.853 PMs no primeiro semestre e lojistas da região central já reclamam de falhas na fiscalização do comércio de rua; Segurança Pública diz que faltam ‘condições mínimas’ para ampliar parceria
Artur Rodrigues
O número de policiais militares contratados pela Operação Delegada da
Prefeitura de São Paulo caiu pela metade desde o início da gestão Fernando
Haddad (PT). Vitrine do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e promessa de
continuidade na campanha do petista, o projeto foi desidratado no primeiro
semestre e seu contingente teve redução de 3.439 para 1.853 PMs. Com menos
policiais na fiscalização, ambulantes tomam as ruas e comerciantes cobram a
volta do efetivo.
Hélvio Romero/Estadão
PMs atuam em dupla na Rua 25 de Março para
coibir comércio irregular
Criada em 2009, a operação virou uma franquia que já chegou a 17 cidades do
Estado e está em processo de implementação em outras 40. Na capital, porém, a
relação entre Haddad e o comandante-geral da PM, Benedito Roberto Meira, sempre
foi tensa. O petista não queria o foco no combate aos camelôs e tentou fazer com
que os PMs trabalhassem à noite na periferia, sem sucesso.
"A (Operação) Delegada caminha para acabar", diz o vereador coronel Alvaro
Camilo (PSD), que instalou o programa quando era comandante-geral da PM. Segundo
ele, com a redução do efetivo, os policiais não dão conta de fiscalizar o
comércio de rua na cidade.
O Estado percorreu vias do centro e constatou grande número
de ambulantes mesmo onde ainda há policiais da operação, como nas Ruas 25 de
Março, José Paulino e Santa Ifigênia. "Cuidava de um quarteirão. Agora, tenho de
cuidar de três. Vira um jogo de gato e rato", diz um PM na Santa Ifigênia.
Na região da Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona sul, a retirada de 50 dos
67 PMs da operação causou mobilização da associação de moradores Ame Jardins.
"Aumentaram as ocorrências de furto e roubo e teve um caso de saidinha de
banco", diz João Moradei Junior, diretor da entidade. O grupo cobrou da
Prefeitura e os PMs voltaram às ruas da região.
A situação causou polêmica também em outras áreas da cidade. "A gente
percebeu que o efetivo vem diminuindo e os camelôs estão voltando", diz Kelly
Cristina Lopes, da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Bom Retiro. "Prejudica
porque, muitas vezes, os ambulantes estão vendendo o mesmo produto que o
comerciante na porta dele e sem pagar imposto."
Os camelôs usam esteiras e caixas de papelão para fugir da fiscalização com
velocidade. "Agora, a gente só espanta. Antes, apreendia a mercadoria", diz um
soldado da PM. O presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade,
Edson Luiz Vismona, diz que a fiscalização foi abandonada. "Em oito meses de
governo, a Prefeitura ainda está pensando no que vai fazer", afirma.
A Prefeitura também retirou a Guarda Civil Metropolitana da fiscalização. A
gestão Haddad planejava que as duas corporações fizessem um trabalho de
patrulhamento comunitário.
Noite. A administração municipal anunciou na última
sexta-feira, 16, que abortou a tentativa de colocar a Polícia Militar à noite na
periferia na Operação Delegada. Segundo a Prefeitura, os policiais não se
interessaram. O principal temor seria a dificuldade de deixar esses bairros no
período noturno.
"A população reclamou muito da violência dos policiais. A Operação Delegada
não era uma meta nossa de campanha e não é prioridade do governo. Segurança é
uma questão de Estado e que o Município contribui na medida do possível", disse
a secretária municipal de Planejamento, Leda Paulani.
O número de PMs deve diminuir ainda mais. Nos bastidores, fala-se que a
diminuição acontece porque a polícia não apresenta corretamente o nome dos
contratados, que passou a ser pedida pela atual administração. Em nota, a
Secretaria de Estado da Segurança Pública afirmou que "a Prefeitura não ofereceu
as condições necessárias para o sucesso da Operação Delegada noturna".
Fonte: O Estado de São Paulo
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