Considerada
fundamental para a conclusão do inquérito, a estratégia é resultado da
iniciativa de uma delegada que assumiu a missão de ouvir vítimas e suspeitos e
garantir que nenhuma informação importante se perca em meio a pilhas e pilhas
de papéis timbrados.
— Decidi que tinha de ajudar de alguma maneira,
então liguei para o delegado regional (Marcelo Arigony, que comanda as
investigações) e disse: "Chefe, para onde eu vou?" — relata Luiza
Sousa, especializada em Ciências Criminais.
Enquanto os colegas se desdobravam para agilizar a
identificação dos mortos, a delegada foi até a 1ª DP e começou a atuar nos
bastidores, tomando os primeiros depoimentos. Com apenas dois anos de carreira,
mas considerada uma das melhores de sua turma, ela sabia que a dimensão do
desastre exigiria a adoção de um plano de combate. Desde então, passaram por
ela de 20 a 30 testemunhas todos os dias.
O principal desafio foi definir a técnica adequada
para sistematizar as falas e domar o inquérito, que deve atingir a marca das 5
mil páginas. Até sexta-feira, o calhamaço já passava das 2 mil folhas
distribuídas em 10 volumes, com mais de 300 pessoas ouvidas. Nos próximos dias,
esse número pode chegar a 500.
Defensoria entrará com ação coletiva
A técnica adotada inclui a divisão das testemunhas
em quatro grupos, conforme o envolvimento na tragédia — sobreviventes,
bombeiros, fiscais da prefeitura e personagens-chave, como os donos da boate e
os músicos da banda. Para cada categoria, uma lista fixa de perguntas. O
material está sendo tabulado, permitindo aos policiais saberem exatamente
quantas pessoas viram o início do fogo, onde estavam e como foi a saída.
A estratégia permite a criação de um banco de dados
que embasará a redação do relatório final, onde serão apontadas as
responsabilidades. Entre outros fatores, ajudará a respaldar as conclusões dos
delegados, que estão prestes a encerrar o inquérito.
— Esse organograma é imprescindível — avalia o
delegado Sandro Meinerz.
Enquanto as investigações avançam, os familiares
das vítimas se mobilizam. Na manhã deste sábado, a associação criada pelo grupo
voltou a se reunir. A entidade planeja encaminhar junto à Defensoria Pública
uma ação coletiva de reparação de danos e indenização.
O defensor público João Otávio Carmona Paz afirmou
que ainda não pode estimar os valores de indenização, mas acredita que a ação
deve responsabilizar entes públicos como Estado e prefeitura, além dos
proprietários. Entre os réus ainda podem estar fabricantes de espuma. A
previsão é de que em duas semanas a Defensoria ingresse em juízo.
Zero Hora
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Revista da Defesa Social & Portal Nacional dos Delegados
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