LUIZ FLÁVIO GOMES, 55, doutor em
direito penal, fundou a rede de ensino LFG. Foi promotor de justiça (de 1980 a
1983), juiz (1983 a 1998) e advogado (1999 a 2001). Estou no professorlfg.com.br.
Depois que o STJ determinou, em março deste ano,
que o exame de sangue e o bafômetro (etilômetro) eram as únicas provas
aceitáveis no delito de direção embriagada do art. 306 do CTB, a Câmara dos
Deputados aprovou novo projeto de lei (de autoria de Hugo Leal) para acabar com
a exigência dos 6 decigramas de álcool por litro de sangue e resolver o problema
probatório, aceitando qualquer outro meio permitido em direito. O projeto foi
para o Senado e acaba de ser aprovado, sem alterações. A Presidenta prometeu
sancioná-lo antes do final do ano. Trata-se de uma nova lei seca. Vai
funcionar?
De acordo com os levantamentos do Instituto
Avante Brasil, em 1980 foram registradas 19.927 mortes anuais no trânsito. Em
1990, passamos para 28.574. Em 1995, 32.750. Desde essa explosão de mortes na
década de 90, o que nós brasileiros estamos fazendo para debelar esse flagelo
nacional?
A União Europeia, que de 1996 a 2009 reduziu em
42% o número de mortes, descobriu o caminho correto e passou a levar a sério a
fórmula EEFPP: Educação, Engenharia (das estradas, das ruas e os carros),
Fiscalização, Primeiros socorros e Punição.
E o Brasil? Ele responde à tragédia mortífera com
novas leis, sempre mais duras e sempre com promessas de que agora vai resolver.
Tudo começou com o Código de Trânsito brasileiro em 1997, quando o Datasus
registrava 35.620 mortes no trânsito. Como já não estava surtindo o efeito
desejado, modificou-se o CTB em 2006, quando já contávamos com 36.367 mortes.
Não tendo funcionado bem, veio a Lei Seca de 2008, quando alcançamos o patamar
de 38.273 mortes.
De 2009 para 2010 aconteceu o maior aumento de
mortes no trânsito de toda nossa história: 13,96%. Assim chegamos em 2010 com
42.844 mortes (dados do Datasus). A projeção que fizemos no nosso Instituto
Avante Brasil, para 2012, é de mais de 46 mil óbitos. Para dar satisfação
simbólica ao povo brasileiro, o que acabamos de fazer? Nova lei penal, mais
rigorosa que a anterior.
Sem severa fiscalização e persistente
conscientização de todos, motoristas e pedestres, nada se pode esperar de
positivo da nova lei. O legislador, diante da sua impotência para resolver de
fato os problemas nacionais, usa sua potência legislativa e com isso se
tranquiliza dizendo que fez a sua parte. Isso se chama populismo penal
legislativo, porque se sabe, de antemão, que a situação não vai se alterar.
O buraco do trânsito é muito mais profundo.
Dessas políticas enganosamente repressivas e inócuas já estamos todos enfadados.
A Europa descobriu há duas décadas o caminho correto, com a fórmula EEFPP. Vem
colhendo excelentes frutos dessa política indiscutivelmente acertada.
Nós ignoramos completamente tudo que a fórmula
sugere (na Europa, mais de 70 medidas concretas foram tomadas) e aprovamos, de
tempos em tempos, novas leis penais, sempre mais duras. Pura enganação, em
termos de prevenção da mortandade, embora sejam acertadas e necessárias algumas
alterações legislativas. Continuamos nos iludindo com novas leis mas nos
mantendo indiferentes com tudo aquilo que efetivamente deveria ser feito.
Tiririca, ao se candidatar a deputado federal, dizia: “Pior que está não fica”.
O Brasil, no entanto, está conseguindo diariamente ficar pior, e bem pior, em
alguns setores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário