domingo, 18 de março de 2012

Delegado geral abre aula magna na Faculdade de Direito Damásio de Jesus

Delegado geral abre aula magna na Faculdade de Direito Damásio de Jesus

O delegado geral Marcos Carneiro Lima palestrou na aula magna do 1º semestre/2012 da Faculdade de Direito Damásio de Jesus, nessa quarta-feira (14), no Salão Nobre da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP). Na ocasião, Luiz Flávio Borges D'Urso, presidente da entidade, abriu o evento homenageando com uma láurea de agradecimento pelos feitos profissionais, o jurista e considerado maior especialista em Direito Penal do Brasil, Damásio Evangelista de Jesus (foto à direita), fundador do primeiro curso preparatório para concursos de carreiras jurídicas do País.

Ao tomar a palavra, Damásio de Jesus falou de sua formação acadêmica, da ideia de criação do curso preparatório e de amizade, ao que declarou tomar como amigo todo aquele que luta e vence durante a construção da própria carreira.

Na sequência, Marcos Carneiro Lima falou aos alunos do Complexo Damásio sobre as experiências que viveu em campo e que hoje vive administrando a Polícia Civil, que lhe deram visão do que precisa ter um policial para desempenhar suas funções com competência, e assim lhes deu vários exemplos de situações que um delegado de polícia enfrenta no cotidiano.

O delegado geral mencionou a aprovação, na mesma quarta-feira, da PEC 19/2011, que torna jurídica a carreira de delegado de polícia e a partir disso, discorreu sobre os passos que deu, do banco de sala de aula na faculdade (ele graduou-se na USP em 1986) até a Delegacia Geral de Polícia, destacando as passagens pelo 47º DP (Capão Redondo), pelas Divisões de Homicídios e Antissequestro, ambas do DHPP, e pela Corregedoria.

“Quando fui para a Divisão de Homicídios (com cinco anos de carreira), estava estudando para ser juiz. Perdi o dia do exame. Mas aí me perguntei: 'se passasse, eu seria um juiz efetivamente vocacionado?', e pensei o seguinte: 'embora houvesse a questão salarial, eu estava fazendo uma coisa que gostava, e iria ficar'”, contou Carneiro. Sobre a fase no 47º DP, ele também mencionou vocação como necessidade para lidar com as dificuldades do trabalho policial. “Dá para imaginar um plantão de 12 horas com 7 locais de homicídio? A banalidade da morte é uma coisa gritante e a gente não via nenhum tipo de reflexo na mídia. Essa distorção da realidade brasileira é que os senhores têm a grande oportunidade de mudar”, frisou Carneiro.

Aconselhando os alunos do Damásio a serem objetivos em suas metas profissionais, o delegado geral os alertou para desenvolverem um filtro de informações, um mecanismo que lhes permita analisá-las de forma crítica, para assim poderem contribuir, na fase acadêmica e futuramente ao longo das carreiras que iniciarem, com o debate de questões vitais para a sociedade, como a da segurança pública.

“O Brasil tem 3% da população mundial, com um diferencial: 12% dos homicídios do mundo acontecem aqui. Essa equação não está batendo. Cadê o brasileiro cordial de Gilberto Freire? O banco de escola, a vida acadêmica é isso, é o debate, o diálogo, a contestação, isso é muito importante... Todo dia é decisão. E o policial decide na hora! A polícia é a primeira face do Estado presente no fato. Quando vocês, na condição de policiais, se depararem com uma situação com que todos se deparam todo dia: é decisão. Não dá para analisar outro dia. E assim você tem 50% de chance de acertar e 50%, de errar, por isso a necessidade de preparo técnico”, frisou Carneiro.

Encerrando sua participação na aula magna do Complexo Damásio, o delegado geral recomendou a todos três leituras, argumentando que não basta o bacharelado em Direito, saber qual artigo do Código Penal é o quê, pois “quem decora é rábula, é o oposto de se ter conhecimento para uma visão humanista da vida”, disse ele. São elas: “O Processo”, de Franz Kafka, “O Estrangeiro”, de Albert Camus, e “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévski. E antes de passar a palavra ao mestre de cerimônia, Marcos Carneiro contou uma história, após a qual foi longamente aplaudido:

“Certa feita, um sociólogo americano, crítico feroz da violência policial - e aqui no Brasil volta e meia nós ouvimos também, porque questão de segurança pública é muito discutida por antropólogos, sociólogos, chamar polícia para discutir segurança pública esquece! Falam que a polícia tem o monopólio da violência, e eu humildemente discordo: a polícia controla a força em favor da sociedade, da justiça e da lei – ouviu em sala de aula de um aluno policial: 'o senhor fala de algo que não conhece'. E esse professou pediu licença da faculdade, prestou o exame na polícia e foi trabalhar como patrulheiro. Até que um dia ele ia matando um jovem negro, e quem segurou a mão dele para não apertar o gatilho foi um policial veterano, que lhe disse 'não faça isso, você vai acabar com sua vida'. E aí ele reformulou todo o conceito de polícia, de força policial, e deixou lá nos estudos dele uma informação sintética, ele se perguntava: 'por que eu chegava em casa cansado, depois de ter sido humilhado, de ter abordado pessoas que cuspiram na minha cara e eu não pude fazer nada, e ainda assim tinha prazer imenso interno? É porque eu tinha a consciência plena de ter sido útil'. A sensação de utilidade é que vai fazer com que o policial vocacionado continue sempre na caminhada pela justiça”, finalizou o delegado geral.



Por Kerma Sousa Matos

Fonte: Site da Polícia Civil de São Paulo

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