PF avança
a fronteira para combater tráfico de drogas
FERNANDO
MELLO
MÁRCIO NEVES
DE BRASÍLIA
MÁRCIO NEVES
DE BRASÍLIA
A Polícia Federal lançou mão de
uma nova tática para combater o tráfico de drogas nas fronteiras: os policiais
brasileiros entram no território de outros países, como Peru e Paraguai, para
destruir plantações de maconha e da folha de coca, matéria-prima da cocaína e
do crack.
A estratégia surgiu após a PF
identificar um problema -o de que, há cinco anos, a coca vem sendo plantada
cada vez mais perto da fronteira, o que facilita a entrada no país.
Em 2008, o Brasil começou a fazer
acordos de cooperação com os vizinhos para trocar informações de inteligência
sobre traficantes internacionais.
No ano passado, foi fechado o
acordo com o Peru tratando especificamente da entrada dos brasileiros em
território peruano para a destruição de plantações e laboratórios -o contrário
não está previsto.
Os acordos são acompanhados pelo
Itamaraty.
Entre agentes, a tática é chamada
de "nosso Plano Colômbia" -referência à ação dos EUA para combater o
narcotráfico em solo colombiano.
O projeto ainda é visto com
desconfiança por policiais peruanos com quem a Folha conversou. Eles não
quiseram se pronunciar oficialmente, sob argumento de que ainda é cedo para
prever resultados.
Nos últimos 15 dias, a PF
realizou uma operação em Tabatinga (AM), batizada de Trapézio, em referência à
fronteira com Peru e Colômbia.
Em solo peruano, a PF destruiu
100 hectares de plantação de folha de coca, que gerariam mais de 700 kg de
droga. A planta leva ao menos dois anos para crescer de novo.
Com a ajuda de agentes peruanos,
colombianos e da DEA (agência antidrogas dos EUA), os brasileiros explodiram
ainda laboratórios do tráfico.
A PF também tem acordo para
entrar no Paraguai. A ideia é repetir a tática na Colômbia e, principalmente,
na Bolívia, o que depende do aval do governo Evo Morales. Como a Folha
revelou em julho, 54% da cocaína que entra no Brasil vêm da Bolívia e 38% do
Peru.
"Erradicar as plantações é
mais eficiente do que simplesmente apreender a carga. Esses pés estão próximos
à fronteira com o Brasil, ou seja, vão abastecer o mercado brasileiro", disse
o Diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, delegado Oslain Santana.
O Brasil tem 16,8 mil km de
fronteiras e só cerca de 1.400 policiais no controle. Só o limite com a Bolívia
tem o tamanho da divisão entre EUA e México. Os americanos, porém, têm mais de
20.000 agentes lá.
"Não se combate crime
organizado só com trabalho ostensivo. No caso do tráfico, é preciso identificar
quem comete o crime", diz Santana.
PROJETO DE CONTROLE AÉREO DA
FRONTEIRA ESTÁ ATRASADO
Um outro projeto da PF para as
fronteiras, o uso dos Vants (aviões não tripulados), está atrasado.
Ele começou na gestão do
ex-diretor Luiz Fernando Corrêa, mas só um avião está apto. Há pendências com o
Tribunal de Contas da União, que considerou desproporcionais os gastos com
treinamento e manutenção.
Missões em outros países envolvem
riscos. Em 2011, dois agentes foram mortos durante investigação na fronteira
com o Peru. O traficante peruano responsável pelas mortes foi preso.
Fonte: Folha online
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