Quando foi chamado para revolucionar o Decap, Departamento de Polícia Judiciária da Capital, o maior do tipo da América Latina, o delegado Carlos José Paschoal de Toledo, 50, tinha apenas duas certezas: a de que iria fazer o que estavam lhe pedindo, realizando a maior mudança já vista na história do departamento, e a de que seria contestado por uma parcela - menor - de policiais que, de jeito nenhum, desejava qualquer mudança. Foi assim mesmo que aconteceu.
Hoje, um ano e sete meses depois de sua posse, o antigo lugar de “castigo” da Polícia Civil é um departamento orgulhoso de seus feitos, reconhecido pela maioria – ganhou o Prêmio Mário Covas em 2011 na categoria “Excelência em gestão pública”, e com uma gestão totalmente diferente daquela que o comandou por quase 40 anos. Em contrapartida, o líder dessa revolução virou vidraça para os descontentes. Toledo foi seriamente questionado pelas carreiras policiais civis.
Num período de apenas 12 meses, o Decap ganhou 9 Centrais de Flagrantes e 27 Centrais de Polícia Judiciária. Conseguiu reduzir para até 30 minutos o registro de boletim de ocorrência simples, para até 1 hora o de um flagrante complicado e para até 10 minutos a constatação científica de uma droga apreendida.
Houve ainda o crescimento do GOE – Grupo de Operações Especiais, que saiu de 4 para 10 viaturas, a separação física do cidadão que vai à delegacia registrar um B.O. do criminoso preso em flagrante e a criação de um sistema já consagrado pela iniciativa privada: o SAC, Serviço de Atendimento ao Cidadão.
O Portal da SSP foi ao Decap entrevistar o autor destas mudanças que, demonstrando máximo respeito à sua equipe, insiste em não ser visto como tal. Para Toledo, todos os resultados conseguidos até agora são fruto do trabalho de um grupo de policiais em que confia e delega poderes.
Toledo não gosta de conceder entrevistas e tornar-se o centro das atenções. Formado em Direito pela Faculdade São Francisco da USP, é um profissional sério, formal, de escrita parnasiana e um modo de falar quase literário, sem gírias ou palavrões. É um diretor que prefere exaltar a prisão realizada por um distrito policial sob sua tutela para, aí sim, divulgar aos quatro ventos o trabalho que vem sendo desenvolvido em seu departamento. A conversa com o diretor do Decap foi longa, por isso, publicaremos ao longo de 8 dias. Leia a primeira parte, abaixo.
Portal da SSP: Delegado, quais foram as principais mudanças já observadas no Decap, após a implantação do novo sistema de gestão?
Toledo: O tempo de registro de um boletim de ocorrência diminuiu. Hoje, é possível boletins serem registrados entre 10 e 30 minutos, dependendo de sua complexidade e de como a pessoa se expressa. O fato é que a média na Capital é hoje de 30 minutos.
Os flagrantes estão sendo feitos em cerca de 1 hora e meia.
A Central de Flagrantes atende majoritariamente as equipes da Polícia Militar. O policial pega o recibo da entrega do preso, é ouvido e sai da delegacia rapidamente. Isso significa que essa guarnição volta ao patrulhamento normal para realizar novas prisões.
Nos dados que coletamos, de julho do ano passado até junho deste ano, contamos quase 26 mil pessoas presas no Decap. Comparando com o mesmo período de um ano antes, prendemos no primeiro ano de gestão, 900 pessoas a mais, o que pode ser explicado pelo fato dos PMs saírem mais rápido da delegacia.
Em parceria com o IC, adotamos um sistema de constatação de drogas e isso está dando certo. Por exemplo: em um flagrante de tráfico de drogas, na Vila Jacuí ou em São Matheus, de madrugada, os policiais tinham que levar essas drogas até o bairro de Pinheiros para que o IC pudesse constatar que, de fato, era entorpecente.
Agora isso pode ser feito no próprio local pelo Kit de constatação de drogas. O que antes demorava 5 ou 6 horas leva hoje alguns minutos e não existe mais o estresse de levar o material para ser analisado.
Funciona assim tanto na Central de Flagrantes quanto na Central de Polícia Judiciária e esse sistema é tão bom que já existe um projeto da Delegacia Geral de Polícia para que seja feito no Estado inteiro.
Economizando tempo e ampliando força, é possível aumentar a capacidade policial do Estado e diminuir o estresse. Por exemplo, se houver testemunha, ela não ficará constrangida de esperar tanto tempo na delegacia.
Portal da SSP: Quando foi chamado para dirigir o Decap, o que passou pela sua cabeça?
Toledo: Cheguei ao DHPP em 2001 e fui assistente do então diretor, Dr. Domingos Paulo Neto. Quando ele saiu, convidado pelo delegado geral para assumir outro departamento, fui chamado para o seu lugar.
Nessa minha primeira diretoria, eu estava em um ambiente propício para saber onde mudar. E deu muito certo, por quase dois anos. Depois, fui para o DAP, o Detran e, finalmente, o Decap.
Eu sempre trabalhei com uma metodologia precisa, jamais empírica. Sempre acreditei que é preciso estudar o problema para depois fazer o diagnóstico. No começo, tínhamos uma equipe muito reduzida, mas todos os envolvidos tinham visão ampla do panorama policial.
A lição que nos foi passada para aplicarmos aqui foi a de transformarmos substancialmente o atendimento e a investigação. Nós já chegamos com esta missão.
Todos nós, eu, minha família, vocês, os cidadãos de bem, ninguém sentia segurança em ir a uma delegacia para registrar um B.O. pelo receio de ser maltratado, perder tempo, ser assediado moralmente ou até do problema não ser investigado.
Então, tivemos que unir um bom atendimento, com uma equipe rápida e uma investigação de qualidade, a um inquérito policial que pudesse chegar com qualidade ao Ministério Público.
Eu criei um escritório de projetos e encarreguei o delegado Pablo França de realizar as pesquisas de campo para ver como o atendimento estava sendo feito. Esse grupo realizou entrevistas com os delegados e os demais policiais.
Fizemos pesquisas de trabalhos científicos sobre a importância do sono na qualidade do trabalho desempenhado pelo ser humano, reunimos todos esses subsídios e idealizamos um sistema. Esse planejamento foi essencial e levou mais ou menos seis meses.
Portal da SSP: Quanto tempo durou a fase inicial?
Toledo: Chegamos em janeiro de 2011 e a primeira etapa se iniciou em julho. Depois de pronto, o sistema foi apresentado ao delegado geral, ao secretário da segurança pública e, finalmente, ao governador do estado, que nos deu carta branca para agirmos.
Tudo foi baseado na distribuição racional de meios, humanos e materiais. Um exemplo: em todas as delegacias seccionais, tínhamos uma unidade que se chamava SIG (Setor de Investigações Gerais), que monopolizava toda a investigação do Decap, concorria com a polícia especializada para fazer a investigação de entorpecentes, tributária, fazendária, ou seja, nada que se referisse às comunidades locais e delegacias.
Agora, todas as delegacias estão investigando latrocínio, homicídio, sequestro, crimes que ocorrem na sua circunscrição. O resultado é que a população que mora próximo sabe que a delegacia vai investigar os crimes que estão sendo registrados lá. E os números mostram isso.
Hoje, um ano e sete meses depois de sua posse, o antigo lugar de “castigo” da Polícia Civil é um departamento orgulhoso de seus feitos, reconhecido pela maioria – ganhou o Prêmio Mário Covas em 2011 na categoria “Excelência em gestão pública”, e com uma gestão totalmente diferente daquela que o comandou por quase 40 anos. Em contrapartida, o líder dessa revolução virou vidraça para os descontentes. Toledo foi seriamente questionado pelas carreiras policiais civis.
Num período de apenas 12 meses, o Decap ganhou 9 Centrais de Flagrantes e 27 Centrais de Polícia Judiciária. Conseguiu reduzir para até 30 minutos o registro de boletim de ocorrência simples, para até 1 hora o de um flagrante complicado e para até 10 minutos a constatação científica de uma droga apreendida.
Houve ainda o crescimento do GOE – Grupo de Operações Especiais, que saiu de 4 para 10 viaturas, a separação física do cidadão que vai à delegacia registrar um B.O. do criminoso preso em flagrante e a criação de um sistema já consagrado pela iniciativa privada: o SAC, Serviço de Atendimento ao Cidadão.
O Portal da SSP foi ao Decap entrevistar o autor destas mudanças que, demonstrando máximo respeito à sua equipe, insiste em não ser visto como tal. Para Toledo, todos os resultados conseguidos até agora são fruto do trabalho de um grupo de policiais em que confia e delega poderes.
Toledo não gosta de conceder entrevistas e tornar-se o centro das atenções. Formado em Direito pela Faculdade São Francisco da USP, é um profissional sério, formal, de escrita parnasiana e um modo de falar quase literário, sem gírias ou palavrões. É um diretor que prefere exaltar a prisão realizada por um distrito policial sob sua tutela para, aí sim, divulgar aos quatro ventos o trabalho que vem sendo desenvolvido em seu departamento. A conversa com o diretor do Decap foi longa, por isso, publicaremos ao longo de 8 dias. Leia a primeira parte, abaixo.
Portal da SSP: Delegado, quais foram as principais mudanças já observadas no Decap, após a implantação do novo sistema de gestão?
Toledo: O tempo de registro de um boletim de ocorrência diminuiu. Hoje, é possível boletins serem registrados entre 10 e 30 minutos, dependendo de sua complexidade e de como a pessoa se expressa. O fato é que a média na Capital é hoje de 30 minutos.
Os flagrantes estão sendo feitos em cerca de 1 hora e meia.
A Central de Flagrantes atende majoritariamente as equipes da Polícia Militar. O policial pega o recibo da entrega do preso, é ouvido e sai da delegacia rapidamente. Isso significa que essa guarnição volta ao patrulhamento normal para realizar novas prisões.
Nos dados que coletamos, de julho do ano passado até junho deste ano, contamos quase 26 mil pessoas presas no Decap. Comparando com o mesmo período de um ano antes, prendemos no primeiro ano de gestão, 900 pessoas a mais, o que pode ser explicado pelo fato dos PMs saírem mais rápido da delegacia.
Em parceria com o IC, adotamos um sistema de constatação de drogas e isso está dando certo. Por exemplo: em um flagrante de tráfico de drogas, na Vila Jacuí ou em São Matheus, de madrugada, os policiais tinham que levar essas drogas até o bairro de Pinheiros para que o IC pudesse constatar que, de fato, era entorpecente.
Agora isso pode ser feito no próprio local pelo Kit de constatação de drogas. O que antes demorava 5 ou 6 horas leva hoje alguns minutos e não existe mais o estresse de levar o material para ser analisado.
Funciona assim tanto na Central de Flagrantes quanto na Central de Polícia Judiciária e esse sistema é tão bom que já existe um projeto da Delegacia Geral de Polícia para que seja feito no Estado inteiro.
Economizando tempo e ampliando força, é possível aumentar a capacidade policial do Estado e diminuir o estresse. Por exemplo, se houver testemunha, ela não ficará constrangida de esperar tanto tempo na delegacia.
Portal da SSP: Quando foi chamado para dirigir o Decap, o que passou pela sua cabeça?
Toledo: Cheguei ao DHPP em 2001 e fui assistente do então diretor, Dr. Domingos Paulo Neto. Quando ele saiu, convidado pelo delegado geral para assumir outro departamento, fui chamado para o seu lugar.
Nessa minha primeira diretoria, eu estava em um ambiente propício para saber onde mudar. E deu muito certo, por quase dois anos. Depois, fui para o DAP, o Detran e, finalmente, o Decap.
Eu sempre trabalhei com uma metodologia precisa, jamais empírica. Sempre acreditei que é preciso estudar o problema para depois fazer o diagnóstico. No começo, tínhamos uma equipe muito reduzida, mas todos os envolvidos tinham visão ampla do panorama policial.
A lição que nos foi passada para aplicarmos aqui foi a de transformarmos substancialmente o atendimento e a investigação. Nós já chegamos com esta missão.
Todos nós, eu, minha família, vocês, os cidadãos de bem, ninguém sentia segurança em ir a uma delegacia para registrar um B.O. pelo receio de ser maltratado, perder tempo, ser assediado moralmente ou até do problema não ser investigado.
Então, tivemos que unir um bom atendimento, com uma equipe rápida e uma investigação de qualidade, a um inquérito policial que pudesse chegar com qualidade ao Ministério Público.
Eu criei um escritório de projetos e encarreguei o delegado Pablo França de realizar as pesquisas de campo para ver como o atendimento estava sendo feito. Esse grupo realizou entrevistas com os delegados e os demais policiais.
Fizemos pesquisas de trabalhos científicos sobre a importância do sono na qualidade do trabalho desempenhado pelo ser humano, reunimos todos esses subsídios e idealizamos um sistema. Esse planejamento foi essencial e levou mais ou menos seis meses.
Portal da SSP: Quanto tempo durou a fase inicial?
Toledo: Chegamos em janeiro de 2011 e a primeira etapa se iniciou em julho. Depois de pronto, o sistema foi apresentado ao delegado geral, ao secretário da segurança pública e, finalmente, ao governador do estado, que nos deu carta branca para agirmos.
Tudo foi baseado na distribuição racional de meios, humanos e materiais. Um exemplo: em todas as delegacias seccionais, tínhamos uma unidade que se chamava SIG (Setor de Investigações Gerais), que monopolizava toda a investigação do Decap, concorria com a polícia especializada para fazer a investigação de entorpecentes, tributária, fazendária, ou seja, nada que se referisse às comunidades locais e delegacias.
Agora, todas as delegacias estão investigando latrocínio, homicídio, sequestro, crimes que ocorrem na sua circunscrição. O resultado é que a população que mora próximo sabe que a delegacia vai investigar os crimes que estão sendo registrados lá. E os números mostram isso.
Adriano Moneta e Mainary Nascimento, com a colaboração de Camila Lessa, Beatrice Caparbo e Guilherme Uchoa
Fonte: Site Secretaria da Segurança Pública de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário