domingo, 19 de agosto de 2012

Delegado geral quer polícia atendendo e investigando bem


Delegado geral quer polícia atendendo e investigando bem

Mainary Nascimento


Carlos José Paschoal de Toledo foi escolhido em janeiro de 2011 como diretor do Decap

Quando as mudanças no Decap começaram, o delegado geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro Lima, já sabia o que esperar. Da escolha do diretor às metas que deveriam ser atingidas, ele participou ativamente. Hoje, considera-se satisfeito mas diz que é preciso avançar, tornando a polícia ainda mais dinâmica e eficiente. Na concepção de Carneiro, a Polícia Civil precisa se basear em um binômio: atender bem ao cidadão e realizar uma investigação de qualidade impecável. O Portal da SSP conversou com o delegado geral a respeito das mudanças positivas realizadas no departamento que comanda as delegacias da Capital. Leia a entrevista.

Portal da SSP: Por que o atual diretor do Decap, Carlos José Paschoal de Toledo, foi escolhido para realizar mudanças no departamento?

Marcos Carneiro: O delegado Carlos José Paschoal de Toledo foi escolhido por diversos critérios técnicos mas, principalmente, pelo caráter e perfil de profissional sério, comprometido com a coisa pública. A questão do Decap, na verdade, foi um referencial, porque o assunto é uma questão maior que atinge toda a Polícia Civil.

No mundo inteiro, a segurança pública é tratada sob dois aspectos principais. Primeiro, uma polícia que patrulha, que é ostensiva e previne. Segundo, uma polícia que, após o crime ocorrido, investiga, registra o fato e dá atendimento ao cidadão vítima.

No Brasil, por uma série de equívocos históricos e culturais, a polícia sempre esteve atrelada aos poderosos de plantão, sendo usada como ferramenta da política. Graças a isso, tornou-se ruim. O atendimento ao público ficou como algo secundário porque, antigamente, quem mais procurava a delegacia era a vítima de crime de classe social mais baixa já que a elite dificilmente precisava desse tipo de socorro. O rico, quando tinha que ir a uma delegacia, já chegava com uma recomendação de alguém e acabava tendo outra forma de atendimento.

Só que os tempos mudaram e a polícia despertou para isso. Tanto que a questão não é só melhorar o atendimento ao público mas apresentar outras opções para o cidadão. O registro de um crime, que é algo extremamente importante, não pode ser tratado de forma burocrática.

Por mais um equívoco do passado, pulverizaram as delegacias de polícia. Ora, a polícia que investiga não tem que ser pulverizada. Ela não tem que estar em cada esquina. Quem precisa estar pulverizada é a polícia que patrulha, a ostensiva. A polícia que investiga tem que estar mais concentrada, porque ela depende de uma coisa chamada “informação”.

As Centrais de Flagrante são um primeiro passo para mudar o conceito de atendimento ao público nas delegacias, separando as ocorrências mais complexas das mais simples.

Olhamos ainda para o fator humano. Os plantões deixaram de ser alternados para serem fixos, porque a pessoa que tem um plantão fixo tem um rendimento maior, sua saúde é mais respeitada.

Portal da SSP: O trabalho inicial no Decap foi em conjunto com a Delegacia Geral?

Marcos Carneiro: Sim, o Dr. Toledo e sua equipe tiveram total liberdade para fazer as opções, mas as linhas mestras foram traçadas em comum acordo porque todos nós já tínhamos qual seria o foco do trabalho.

O importante a ressaltar é que a visão inicial foi a de que, enquanto não melhorassem as condições de trabalho do policial, não haveria como cobrar dele uma melhor qualidade de trabalho.

Ampliamos a delegacia eletrônica através do rol de crimes passíveis de serem registrados e possibilitamos à Polícia Militar registrar determinados boletins de ocorrência. Em setembro, será possível relatar o roubo de veículo.

Já estamos estudando a possibilidade de que a Guarda Municipal receba ocorrências. Como envolve Estado e Prefeitura, o estudo exige mais tempo.

Portal da SSP: Qual seria a vantagem para o cidadão?

Marcos Carneiro: Ele terá quatro opções para registrar uma ocorrência: a delegacia, a sua casa – através da internet, o posto da PM e o da Guarda Municipal.

Dessa forma, a população se sentirá motivada a informar um crime, o que diminui a chamada subnotificação e dá uma ideia muito mais precisa para o Estado sobre como está a criminalidade.

Portal da SSP: Retomando o assunto do DECAP, o senhor se surpreendeu com os resultados rápidos ou já os esperava?

Marcos Carneiro: Nós acreditávamos que haveria um impacto porque não foi houve só uma mudança de horário, mas de cultura.

Primeiro, tivemos que melhorar o atendimento ao cidadão enquanto vítima para que não fosse vítima duas vezes. Segundo, aprimoramos a possibilidade do registro da ocorrência e passamos a certeza que a polícia iria investigar o caso.

O que nós queremos é que cada delegacia de bairro investigue e prenda os criminosos da região. Atualmente, elas têm quatro missões principais: investigar o roubo a residência, o roubo ao comércio, o roubo de veículo e o furto de veículos. São quatro crimes que a delegacia tem que combater e mostrar resultados.

Portal da SSP: Sobre o Serviço de Atendimento ao Cidadão, os números se inverteram em relação a um ano atrás. Hoje, há mais elogios que reclamações. Na sua opinião, isso reflete uma maior confiança da população?

Marcos Carneiro: Eu acho que a população já começa a perceber que, para registrar uma ocorrência, o atendimento melhorou. Consequentemente, como haverá uma ampliação de canais para receber a comunicação do crime, a qualidade da investigação vai evoluir.

Portal da SSP: Soubemos que outros departamentos têm refletido essa mudança no Decap como, por exemplo, a Corregedoria, em que as queixas sobre atendimento ruim caíram cerca de 50%. É um bom sinal?

Marcos Carneiro: Colegas têm comentado até da melhora na qualidade da investigação dos policiais do Decap. Sobre a Corregedoria, existiam de fato várias reclamações sobre mau atendimento e a tendência é essa, de reduzir. É uma evolução.

Portal da SSP: Mais duas Centrais de Flagrantes serão inauguradas na Capital. Pelo jeito, deu certo.

Marcos Carneiro: Principalmente entre os policiais militares que são os que mais apresentam ocorrências de flagrantes complexas.

Eles estão entendendo que o sistema foi mudado em seu favor para que não ficassem horas na delegacia, principalmente, disputando com outro cidadão que está lá para fazer outra queixa.

O único porém que ainda havia era o de que algumas Centrais ficavam muito longe dos locais dos crimes. Com essa nova dinâmica que será feita e com os novos delegados, esse problema estará contornado.

Quem ganha com tudo isso é a população pois o PM volta mais rápido para a rua para prosseguir no patrulhamento.


No Decap, uma experiência pioneira e que já é usual no mundo todo foi realizada para agilizar o flagrante: a constatação de drogas. Isso deu tão certo que será estendido para todo o estado. O kit de constatação ajuda a desafogar a perícia que ficava sufocada com tanto volume de trabalho. Primeiro, será no Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), depois no estado todo.

Portal da SSP: O senhor está satisfeito com o que conseguiu até agora?

Marcos Carneiro: A primeira caminhada já foi realizada mas tudo isso é um processo constante. A sociedade é dinâmica e o crime é dinâmico, então temos que ter uma polícia dinâmica. E é isso que estamos tentando fazer.

Mainary Nascimento, com colaboração de Camila Lessa

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