Nomeação feita pelo governador coloca delegado que atuou em Bauru à frente da maior academia da América Latina | |||
O delegado Mário Leite de Barros Filho, 51 anos, que trabalhou por 20 anos em Bauru e região, foi designado no último dia 8 pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para assumir a direção da Academia de Polícia do Estado de São Paulo (Acadepol) ‘Dr. Coriolano Nogueira Cobra’, a maior do tipo na América Latina. O órgão é responsável pela seleção, formação e treinamento de policiais civis.
Com 26 anos de profissão e passagens pelas delegacias de Itapuí, Jaú e Agudos, Barros Filho veio para Bauru na década de 90, onde atuou como adjunto no 1º Distrito Policial (DP) e chegou à diretoria da 5ª Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran). Na cidade, ele constituiu família e, apesar de ter nascido em Santos, considera-se um “bauruense de coração”.
O delegado também trabalhou como assistente da Delegacia Regional de Polícia de Bauru e do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter 4), deu aulas da disciplina de Criminologia na Faculdade de Direito de Bauru da Instituição Toledo de Ensino (ITE) e atuou como assessor jurídico de deputados federais.
Em novembro de 2011, Barros Filho retornou à Polícia Civil paulista. Em março do ano seguinte foi designado delegado de polícia divisionário da Secretaria de Concursos Públicos da Acadepol. Em dezembro, foi nomeado pelo governador representante da Polícia Civil de São Paulo junto ao Conselho Estadual de Trânsito (Cetran).
Durante visita à família em Bauru, o delegado falou sobre carreira, defendeu formação de policiais equilibrados e comprometidos com a atuação profissional e a integração entre as polícias e destacou a forte atuação do setor de inteligência da Polícia Civil na desarticulação de grupos criminosos.
Ele também faz um convite aos amigos para prestigiar sua posse no cargo, que está agendada para a próxima terça-feira, dia 22, às 10h, no auditório da Academia de Polícia, que fica em frente à Praça Professor Reinaldo Porchat, na Cidade Universitária. Confira os principais trechos da entrevista concedida ao Jornal da Cidade.
Jornal da Cidade - Por que o senhor escolheu fazer carreira em Bauru?
Mário Leite de Barros Filho - Meu pai foi delegado de polícia durante muitos anos na cidade de Itu. Eu passei um bom período da minha vida em Itu. Quando eu entrei na Polícia Civil como delegado de polícia, no ano de 1986, eu fiz uma opção por vir aqui para a região de Bauru. Meu pai era de família de Jaú. Então, meu primeiro município foi Itapuí, que fica pertinho de Jaú, e aí eu acabei fazendo grande parte da minha carreira nas cidades aqui da região.
JC - Como surgiu o convite para assumir a direção da Acadepol?
Mário Leite - Surgiu a oportunidade de eu ser promovido à Classe Especial, que é o topo da carreira, no ano passado, e eu fui designado como delegado de polícia responsável pelos concurso públicos, que é um setor da Academia de Polícia. Fiquei um ano lá e, agora, fui honrado com esse convite do governador do estado de São Paulo para dirigir a Academia de Polícia do Estado de São Paulo.
JC - Qual foi o seu sentimento diante dessa nova oportunidade profissional?
Mário Leite - Esse convite para mim foi um desafio, me envaideceu muito, principalmente porque é uma oportunidade de eu colocar em prática os meus ideais de selecionar bons policiais, pessoas comprometidas com a segurança pública, policiais equilibrados, que ao mesmo tempo sejam enérgicos, mas respeitem o princípio da dignidade da pessoa humana. Eu tenho um compromisso na Academia de Polícia de transformar aquela entidade de ensino num grande centro de estudos de assuntos de Polícia Judiciária, de investigação criminal, de ações no sentido de pacificação social. Então, para mim, é um misto de alegria e também de responsabilidade e desafio porque eu vou ter um imenso trabalho pela frente.
JC - Quais as principais atribuições da Academia de Polícia do Estado de São Paulo?
Mário Leite - Na academia, temos três setores grandes. O primeiro é o setor de Concursos Públicos, que eu chefiava, que é responsável pela realização dos concursos e pela seleção dos professores. Nossos professores são todos concursados e isso estabelece uma qualidade muito grande aos professores. Nós temos uma Secretaria de Cursos de Formação. O aluno é aprovado no concurso público, vai para a secretaria de formação, fica um período de quatro a seis meses se preparando e depois é nomeado para iniciar o exercício das funções dele nos distritos policiais da Capital e da Grande São Paulo. Eu tenho um grande setor também na Academia de Polícia que é o Setor de Cursos Complementares para policiais que já estão na carreira. Lá, eu tenho cursos de pós-graduação na área lato sensu (que compreendem programas de especialização) e meu sonho é implantar o mestrado profissionalizante, um curso de pós graduação stricto sensu, só que voltado à atividade policial.
O que é importante também que a população saiba é que eu tenho na academia um Centro de Direitos Humanos para preparar o policial civil para exercer a atividade policial, observando o princípio da dignidade humana. Nós temos dois campus, na Cidade Universitária e em Mogi das Cruzes, onde é realizado o treinamento de campo, com tiros a longa distância, defesa pessoal. Além disso, temos na Academia de Polícia o Museu da Polícia Civil. Ele é muito importante porque preserva a história da Polícia Civil e prepara os futuros policiais.
Em 2012, ele teve seis mil visitantes Nós temos toda a evolução histórica do crime no Brasil. E foi instalado na nossa academia o estande virtual, que simula situações. Antes do policial nosso praticar no estande real, ele faz no estande virtual. É um aparelho sofisticado onde o policial tem que tomar uma decisão porque pode matar uma vítima.
JC - Como o senhor avalia a atual formação dos policiais? Quais as falhas que precisam ser corrigidas?
Mário Leite - O importante hoje é nós selecionarmos policiais vocacionados, escolher profissionais que tenham compromisso com o interesse público, que não venham atrás apenas de um salário e de uma estabilidade pública porque a atividade policial, na verdade, é um sacerdócio, uma abnegação. Muitas vezes, você tem que deixar o convívio social e familiar para poder se dedicar à solução dos problemas das outras pessoas. Então, o segredo é justamente a gente conseguir enxergar naquelas pessoas interessadas no ingresso na Polícia Civil as pessoas vocacionadas.
Esse é o meu principal desafio. E formar policiais equilibrados, que tenham certeza de que eles não estão acima da lei. Os policiais têm que ter convicção de que toda a atividade deles está limitada pelo princípio da legalidade, que a carteira vermelha que eles vão receber, que é a carteira funcional, ao final do curso, não é um passaporte para a transgressão das normas. É essa a filosofia que eu estou querendo implantar na Academia de Polícia do Estado de São Paulo, dando continuidade ao belo trabalho que o meu antecessor já desenvolvia lá, que era o Dr. Paulo Afonso Bicudo.
JC - Como o senhor vê a questão da integração entre as polícias Civil e Militar visando o combate do crime organizado?
Mário Leite - Eu tenho um ponto de vista muito específico em relação ao assunto. Eu acho que as polícias têm que trabalhar integradas, cada uma desenvolvendo a sua atividade, a Polícia Militar na ação preventiva, ostensiva, e a Polícia Civil na atividade de investigação criminal. Se houver um respeito mútuo entre as instituições é extremamente benéfico e quem ganha é a sociedade. Não pode haver invasão de atribuições. É muito importante que, nesse momento, tanto a Polícia Civil quanto a Polícia Militar se unam nessa luta contra a criminalidade. Não é hora de vaidades, não é hora de a gente defender interesses pessoais e institucionais. Num momento desse, que a sociedade precisa, nós temos que deixar de lado tudo isso.
JC - Mudando um pouco de assunto, como o senhor avalia a questão da banalização da violência que hoje atinge sobretudo o Estado de São Paulo?
Mário Leite - Tecnicamente, a solução dessa questão é um pouco complexa e passa necessariamente por alguns fatores. O primeiro fator, indiscutivelmente, é o fator social. É necessário proporcionar uma melhor distribuição de renda às pessoas e educação de qualidade.
Em segundo lugar, nós temos o fator de legislação. É necessário o aprimoramento da nossa legislação porque, hoje, nós temos nas nossas normas um abrandamento que faz com que isso ocasione impunidade.
Em terceiro lugar, é importante que haja uma efetiva fiscalização, é necessário que haja uma ação bastante enérgica por parte das polícias com resultados.
E, finalmente, a questão da impunidade às vezes gerada pela demora na condenação dos policiais. Todos esses fatores precisam ser trabalhados. Com isso eu quero dizer que o problema da criminalidade e da violência não é um problema exclusivamente de polícia. Na verdade, o problema da criminalidade é uma questão mais complexa que envolve fatores que, muitas vezes, estão longe da decisão dos policiais. A polícia, na realidade, trabalha com os efeitos e não com as causas.
JC - Quais medidas podem ser adotadas para conter essa crescente escalada da violência?
Mário Leite - A gente vê que, efetivamente, medidas estão sendo adotadas. Recentemente, a gente já observou queda na criminalidade e na violência. Precisa haver um combate muito grande com relação ao crime organizado.
O crime organizado a gente combate com inteligência policial, com desarticulação das facções criminosas. E quem realiza esse trabalho é a Polícia Civil, que é a polícia investigativa. Como qualquer outra organização, as facções criminosas precisam ser desarticuladas através de uma investigação criminal onde nós, policiais, conseguimos detectar os principais líderes, prendê-los e isolá-los.
Fonte: Jornal da Cidade de Bauru
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domingo, 20 de janeiro de 2013
Delegado Mário Leite assume Acadepol
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