Ricardo Koiti Koshimizu
Em 2010, das 42,8 mil mortes causadas por acidentes de trânsito, quase 11 mil envolveram motociclistas – e o número deve aumentar, já que a frota de motocicletas do país vem crescendo, informou nesta quinta-feira (13) Marta Maria Alves da Silva, representante Ministério da Saúde, durante audiência pública no Senado que discutiu a segurança de quem utiliza esse tipo de veículo.
– É uma questão epidêmica, sim, e a tendência é de aumento do número de óbitos – reiterou ela, que coordena a Área Técnica de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde.
Marta Maria também observou que cerca de 80% das vítimas fatais – tanto nos acidentes de trânsito em geral como nos casos que envolvem motociclistas – são homens, em geral na faixa etária entre 15 e 39 anos.
Outra conseqüência desse fenômeno, ressaltou ela, é a elevação dos custos governamentais com o tratamento dos acidentados. Marta Maria disse que, no ano passado, foram internadas 153,5 mil pessoas devido a acidentes de trânsito – e que 50% delas estavam envolvidas em acidentes com motocicletas. Ela também informou que o gasto total com essas internações foi de R$ 200,3 milhões, sendo 48% relacionados às motos.
Representante da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, o doutor Dirceu Rodrigues Alves Junior afirmou que, “por incrível que pareça”, atualmente os acidentes com motos vêm afetando mais as pessoas que usam o veículo para ir ao trabalho do que as pessoas que o utilizam profissionalmente – como os motoboys.
Poder econômico
Dirceu Junior também destacou que a expansão das vendas – estimuladas inclusive por medidas governamentais, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) – está relacionada ao aumento de acidentes.
– O poder econômico esqueceu a cidadania, o direito à vida. Estamos crescendo economicamente, mas também estamos ceifando vidas e colocando gente em cadeiras de rodas – criticou.
O especialista argumentou que é aperfeiçoar os cursos de formação de condutores, com o aumento do tempo de treinamento e a utilização de simuladores pelas autoescolas. O mesmo apelo foi feito por outros participantes da audiência, como o presidente da Associação Brasileira de Motociclistas, Lucas Pimentel.
– Infelizmente, o processo de habilitação que existe hoje não dá ao motociclista a vivência de que ele precisa – declarou Pimentel.
Interiorização
Marta Maria Alves da Silva, do Ministério da Saúde, também ressaltou que houve uma “interiorização” pelo país do uso de motociclistas (e, portanto, dos acidentes com tal veículo), especialmente nos municípios de pequeno porte. Ela apontou diversas causas para isso, como a precariedade do transporte coletivo nessas regiões, a deficiência na fiscalização e, no caso do Nordeste, a substituição de cavalos e jegues por motos.
– A interiorização aparece mais no Nordeste, principalmente no estado do Piauí; no Norte, com destaque para Roraima e Rondônia; e no Centro-Oeste, principalmente em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – afirmou ela.
Agência Senado
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