Além de racismo e homofobia,
cidadãos podem relatar até inveja no site da polícia
ARTUR RODRIGUES - O Estado de
S.Paulo
A internet está ajudando a
diminuir a subnotificação dos crimes de intolerância. Com a possibilidade de
registrar ofensas raciais ou homofóbicas pela web, a Delegacia de Crimes
Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) já recebeu 408 boletins de
ocorrência neste ano, contra 176 no ano passado inteiro.
Sem fazer alarde, há cinco meses
a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) passou a permitir a denúncia
dos crimes de injúria, calúnia, difamação e ameaça pelo boletim eletrônico na
internet.
Na motivação, além de raça, etnia
e homofobia, é possível escolher até ciúme e inveja. "Quando a motivação é
racial ou de homofobia, os boletins são encaminhados diretamente à
Decradi", afirma a delegada Adriana Liporoni, coordenadora da Delegacia
Eletrônica.
Com a novidade, na Decradi os BOs
eletrônicos já são quase o triplo dos feitos pessoalmente. Desde 31 de março,
quando passou a ser possível registrar esse tipo de crime pela internet, a
delegacia já recebeu 298 BOs eletrônicos - 157 deles referentes à capital. No
mesmo período, 110 pessoas prestaram queixa pessoalmente.
Facilidade. "Fica mais fácil denunciar.
A pessoa senta e faz de casa, no próprio computador, o que se reflete no
aumento do número de queixas", afirma o delegado Pascoal Ditura, titular
do Decradi.
O delegado lembra que, para que
seja aberto inquérito policial, a pessoa tem de ir depois à delegacia fazer
representação contra a pessoa. Por lei, o prazo para que isso seja feito é de
seis meses. Quando a vítima presta queixa pessoalmente, pode fazer a
representação na hora ou voltar depois.
Agressão. A aposentada Rose Dias, de 58 anos,
prestou queixa pela internet em 30 de junho. Durante uma discussão com um
vizinho, ela foi chamada de "preta, "macaca" e
"sapatona". "Me senti humilhada e chamei a polícia",
afirma.
Ela conta que primeiro foi
orientada por PMs a ir até a delegacia mais próxima. Mas lá, por problemas no
sistema do distrito, lhe recomendaram prestar queixa pela internet. "Eu
gostei do serviço. Ouviram minha versão e me chamaram lá (na Decradi)",
diz.
Fonte: O Estado de São Paulo
O caso, que normalmente acabaria
arquivado em um distrito convencional, foi parar na Decradi e virou inquérito
policial. Segundo Rose, o homem que a agrediu verbalmente já prestou
depoimento.
Movimentos anti-intolerância
comemoram os BOs pela internet e o encaminhamento para a Decradi, onde os
policiais são especializados em atender vítimas de preconceito. "Muitas
pessoas que já foram vítimas de homofobia - até dos próprios policiais - agora
podem prestar queixa pela internet", afirma o presidente da Associação da
Parada Gay, Fernando Quaresma.
Quando há agressão, o comparecimento
à delegacia para fazer BO continua sendo obrigatório.
Em números. De acordo com dados da Decradi,
17% dos casos registrados na delegacia em 2011 foram de lesão corporal dolosa.
Os casos de injúria representaram 53%, seguidos por ameaça (20%), constrangimento
ilegal (3%) e outros (7%).
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