É preciso mudar enfoque do combate às drogas, diz FHC
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, âncora do filme Quebrando o Tabu, foi entrevistado no estúdio do Terra, nesta quinta-feira (29), e falou não só da produção do documentário como também de uma política de combate às drogas mais flexível.
Questionado sobre a reação do partido PSDB em relação ao tema levantado por ele, FHC disse não se importar. "Como eu estou bastante afastado do cotidiano da política partidária, tenho mais de 80 anos, só quero dizer o que penso, o que é melhor para o Brasil.
Estou pouco ligando se as pessoas vão me julgar por isso, por aquilo". Dirigido por Fernando Grostein Andrade, o filme é exibido gratuitamente no Terra Vídeo Store ao longo desta semana.
Fernando Henrique salientou que não se pode misturar política com o tipo de campanha abordada pelo filme Quebrando o Tabu. Ele contou também que enviou uma cópia do documentário para a atual presidente, Dilma Rousseff, através do Ministro da Justiça. "Não vou pedir a ela que opine". Ele afirmou que, durante seu governo, pensava diferente a respeito da política das drogas. "Eu não pensava assim, eu não tinha essa noção, eu era vítima do tabu também. Meu pai é militar. Eu não tenho nenhuma vinculação com esse tipo de comportamento. Nunca fumei cigarro".
Na época em que era presidente da República, FHC disse que tinha menos consciência do tema que atualmente. "A violência não estava tão forte", afirmou. Fernando Henrique acreditava que erradicar a maconha seria o caminho ideal para combater o tráfico.
O assunto foi levantado por FHC com o intuito de tentar reduzir o uso de drogas. Ele concluiu que não adianta colocar as pessoas na cadeia e que é a favor da descriminalização do uso de qualquer droga, mas não que seja favorável a legalização ou ao uso da mesma.
Tratada como tema principal do documentário, a descriminalização de drogas é discutida por políticos e personalidades, que falam sobre as falhas no combate ao tráfico e contam experiências pessoais. Entre os participantes estão os ex-presidentes dos Estados Unidos Bill Clinton e Jimmy Carter, o médico Drauzio Varella e o escritor Paulo Coelho.
Se a possível regulamentação da maconha está perto de acontecer, o ex-presidente explica que o fato de estarem discutindo o tema, seja contra ou a favor, já é um começo. "Essas coisas demoram".
Esse filme está sendo objeto de negociação para ter uma versão mais global e ter um impacto maior no mundo. "Vou ao EUA em dezembro".
Contato de FHC com a maconha
Fernando Henrique disse que teve contato com a droga apenas uma vez, mas que não sabe tragar. "Quando eu estava em Nova York, me passaram um cigarro de maconha, mas eu não sei tragar. Achei horrível o cheiro, não gostei. Foi meu único contato com a maconha".
O jovem e a droga
Os mais jovens têm uma opinião mais positiva em relação ao tema, pois sabem que a droga está muito expandida no País, de acordo com FHC. Para ele, não adianta dizer que a droga é ruim, pois ela é boa, como diz Paulo Coelho, que também participa do documentário. A solução seria esclarecer o assunto. "A droga foi glamourizada, como o cigarro foi, e temos que terminar com isso".
Sobre o tráfico nos colégios, o ex-presidente cita o depoimento do médico Drauzio Varela, que no filme, diz que no fundo, o usuário acaba virando traficante, porque compra, e acaba levando para os amigos.
Situação na Holanda
Para realizar o filme e gravar depoimentos, o ex-presidente visitou diversos países, entre eles a Holanda, onde a descriminalização da maconha já ocorre. "Eu vi na Holanda coisas terríveis, que chocam.
Lá, existem locais onde te dão condições de saúde para o consumo de drogas pesadas. Na Holanda há um desinteresse do jovem pela maconha, pois, por ele ter um coffee shop para comprar, não se preocupa com isso. Eles têm outro problema, o álcool, que é mais difícil de comprar". FHC comenta que a melhor impressão que teve foi em Portugal, pois o país conseguiu um controle maior que os outros. "É um país onde o consumo da droga está diminuindo".
FHC e o discurso com seus filhos e família
Fernando Henrique ressalta que regulamentar não dá consciência a um usuário. Segundo ele, a responsabilidade é da mãe, que deve dizer que faz mal, e da família em discutir isso. "Eu morei nos EUA em 1971 na Califórnia, e meus filhos estavam na escola. A gente recebia relatórios das histórias, e na época, era o auge. A escola dava a probabilidade de crianças que tinham usado drogas e tal". O ex-presidente contou que todos, seus filhos e netos, acompanham o tema das drogas, discutem e acham que ele está certo. "É romper o tabu mesmo. E eles não entraram nas drogas".
Declarações de ex-presidentes
Após falar ao vivo no portal, FHC concedeu uma entrevista gravada à jornalistas do Terra América Latina. Fernando Henrique foi questionado sobre o fato de o filme só ter declarações de ex-presidentes. "A oposição pode pegar a opinião daqueles que estão no poder atualmente e levar para o lado inverso, se beneficiando disso, pregando: veja este cara que apóia o contrabando cuidando da sua filha, da sua família", respondeu.
Fonte: Site Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário