Durante a Pesquisa Nacional, por
amostragem domiciliar, sobre atitudes, normas culturais e valores em relação à
violação dos direitos humanos e violência – 2010, realizada em 11 capitais
brasileiras, foi perguntado aos jovens quais as razões para o sucesso.
Entre 1999 e 2010 houve um
crescimento percentual no número de jovens
entrevistados que opinaram que ser bem sucedido é matar
aula (de 4,8% para 12,7%);
provocar medo nos professores (2,1%
para 7,4%); ter uma arma (5,4% para
8,7%); ser durão/temido pela polícia
(5,8% para 11,1%); conquistar as
pessoas que quiser (12,5% para
32,7%); usar roupas legais
(19,1% para 44,5%); ser muito bom
em algum esporte (28,8% para
54,2%).
Nesse período, houve uma significativa
diminuição percentual no número de jovens que
concordaram que ser bem
sucedido é não deixar os amigos sozinhos numa
briga (de 57,3% para 43,4%) e
uma pequena diminuição daqueles que disseram que é
ter boas notas na escola (de 77,6%
para 75,1%), beber sem ficar
desagradável (53,4% para 50,8%)
e não mexer com a namorada do amigo
(41,8% para 39,6%).
Ou seja, nota-se uma maior
valorização por parte do jovem da malandragem e da violência como forma
de ter mais respeito socialmente (matando aula, estando armado, sendo temido),
uma maior preocupação com o individualismo/consumismo (ter boa aparência,
conquistar muitas pessoas, usar boas roupas) e uma incipiente
tendência a desvalorizar o estudo, a beber sem limites e a relativizar
a amizade, a ética e a moral (não defendendo o amigo na briga ou mexendo com a
namorada dele).
Esta deturpação de valores pelos jovens pode ser
uma das razões do autoritarismo de boa parte da população (maioria da população
concorda em relativizar proteções legais em prol das investigações policiais ou
afirmou que o judiciário se preocupa demais com o direito dos acusados – veja:
Para a população, judiciário se
preocupa demais com os direitos dos acusados e População abre mão de direitos e garantias
fundamentais para facilitar as investigações policiais).
O resultado na prática é o maior consentimento
social da criação de leis mais punitivas, a autorização de mais repressão, de
mais penas severas etc. Como se vê, o modelo de Estado Democrático de Direito
que adotamos na CF de 88 é mais formal que substancial. Na prática, a realidade
é outra. O Brasil apresenta alguns avanços institucionais (eleições, alternância
no poder etc.), mas é muito mais uma democracia de eleição que uma democracia
ética, fundada em valores republicanos que asseguram o futuro da nação.
*LFG – Jurista e professor. Fundador da Rede de
Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do
atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de
Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me: www.professorlfg.com.br.
**Colaborou: Mariana Cury Bunduky – Advogada, Pós
Graduanda em Direito Penal e Processual Penal e Pesquisadora do Instituto Avante
Brasil.
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