Negros são principal alvo dos homicídios
Autor(es): RENATA MARIZ |
Correio Braziliense - 30/11/2012 |
A violência no Brasil tem cor. Em números absolutos, proporcionalmente à população, considerando qualquer ano como referência, negros são sempre as vítimas preferenciais dos homicídios. Enquanto a morte violenta de brancos no país caiu, entre 2002 e 2010, de 20,6 para 15,5 por 100 mil habitantes da cor, entre negros o índice subiu, passando de 34,1 para 36. Ou seja, anualmente, para cada branco assassinado, 2,3 pretos ou pardos perderam a vida pelo mesmo motivo. No início do período analisado, morriam 65,4% mais negros do que brancos. Essa proporção pulou para 132,2% em 2010. O Distrito Federal ocupa a sexta posição no ranking da letalidade contra negros. Cidades do Entorno da capital estão entre as 60 piores. (veja ilustração). Os dados constam do estudo Mapa da Violência 2012: a cor dos homicídios, divulgado ontem na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), ligada à Presidência da República. A pesquisa usou informações do Ministério da Saúde de 2002 a 2010, base mais recente da pasta sobre a mortalidade no Brasil. Luiza Bairros, ministra da Seppir, afirma que os bairros periféricos, onde está grande parte da população negra, sofrem com a falta de serviços básicos, como educação e saúde, e a ausência da polícia. "São áreas que recebem menos atenção da segurança pública ou recebem uma atenção discriminatória, porque não são raros os casos em que a polícia entra em favelas para cometer abusos", afirma a ministra. De acordo com o pesquisador responsável pelo estudo, Julio Jacob Waiselfisz, os índices são alarmantes, não apenas porque superam o limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como epidêmico — mais de 10 mortes por 100 mil habitantes —, mas porque evidenciam o abismo racial no que diz respeito à violência. "É uma tendência histórica e preocupante porque a diferença entre brancos, que morrem menos, e negros, mais vitimados, só tem aumentado", diz o pesquisador. Segundo ele, essa discriminação tem a ver com as condições desiguais do país. "O Estado oferece o mínimo de benefícios sociais para a maioria. Os que podem pagar vivem melhor. É assim com a saúde, com a Previdência, com a educação e, agora, com a segurança", lamenta. Ele acrescenta ainda a existência de uma cultura da violência que permeia sobretudo as camadas mais desassistidas da população. "A própria mídia presta mais atenção no assassinato que atinge o branco na área nobre do que contra três negros mortos na periferia. Tudo isso faz com que as áreas mais pobres recebam menos investimentos", comenta. O fenômeno da letalidade na juventude se acentua quando analisada a questão da cor. A partir dos 12 anos, a taxa de homicídios de brancos passa de 1,3 para 37,3 em cada 100 mil habitantes da mesma cor, aos 21 anos. No caso de negros, o índice sobe, no período etário, de 2 para 89,6. Se na população total morrem 36 negros por 100 mil habitantes da mesma cor, entre os jovens, a taxa é de 72 assassinados. Esse mesmo índice, na população juvenil branca, é de 28,3. No topo dos municípios com as maiores taxas de homicídios de negros estão Ananindeua (PA), com 198,8 assassinados negros por 100 mil habitantes; Simões Filho (BA), com 177,8; Cabedelo (PB), 159,4; Arapiraca (AL), 155,2 mortes; e Porto Seguro (BA), 153,7. "São áreas que recebem menos atenção da segurança pública ou recebem uma atenção discriminatória" Luiza Bairros, ministra da Seppir |
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