A capital não registra uma chacina há quase oito meses. Neste ano, foram três casos, todos em bairros da zona sul. O número já é o menor dos últimos 11 anos. Prisão de policiais envolvidos em grupos de extermínio e redução na tensão entre facções criminosas são os principais motivos da queda.
Em 2001, a capital teve 43 chacinas. Desde então, os números caíram ano a ano, com exceção de 2006, marcado pelos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). A redução foi tão grande que, por falta de demanda, a 3.ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), especializada neste tipo de crime, passou em outubro a também investigar latrocínio (roubo seguido de morte).
Como nas empresas que comemoram um longo período sem acidentes de trabalho, o quadro branco na antessala do delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira avisa que a equipe Alfa da 3.ª Delegacia está de sobreaviso desde o dia 7 de maio. Foi a data da última chacina na capital.
Na ocasião, um grupo de justiceiros da Vila Prel, na área do 37.º Distrito Policial (Campo Limpo), matou três rapazes, com idade entre 20 e 25 anos. Houve revide e um dos autores morreu após dois dias. É uma guerra que atravessa gerações e, segundo o delegado, vem desde 1985. Antes disso, em 16 de fevereiro, outros quatro homens, entre 21 e 27 anos de idade, foram mortos na região do 92.º DP (Parque Santo Antonio). Segundo a polícia, eles foram executados por roubar os traficantes para quem trabalhavam.
A primeira chacina de 2011 aconteceu em 8 de janeiro, na área do 98.º DP (Jardim Miriam), e envolveu três garotas, de idade entre 15 e 22 anos. Elas foram assassinadas pelo namorado de uma jovem com quem se desentenderam durante um baile funk. Um outro rapaz que participou do crime foi morto dois dias depois, em represália.
A definição de como acontecem as chacinas na capital foi fundamental para sua redução, segundo o delegado. “Fizemos mapeamento das áreas de ocorrência, ouvimos testemunhas em sigilo e realizamos confrontos balísticos para chegar aos autores.” O horário mais comum é na madrugada, após as 23h, de sexta-feira a domingo. “Principalmente durante as noites mais quentes.”
A chacina também tem endereço. “A maioria dos casos ocorreu em bares ou biqueiras (pontos de tráfico) na periferia. Isso quando o próprio bar não era uma biqueira.”
Segundo o delegado, os autores são, em geral, mais velhos que as vítimas e têm poder de coerção maior na comunidade. “Eles fazem as chacinas para impor o terror e agem em grupos, normalmente com três ou mais pessoas.”
Entre os próprios bandidos, a prisão em série de autores de chacinas serviu para refrear os ânimos. Num dos casos mais emblemáticos dos últimos anos, membros do PCC atacaram cinco integrantes do Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC) na área do 74.º Distrito Policial (Jaraguá). Dois conseguiram sobreviver e contaram à polícia o que ocorreu. “Só nessa vez prendemos 18 envolvidos.”
Muitas vezes, não são apenas as facções que tentam impor o terror. No período mais crítico de combate aos grupos de extermínio, o próprio delegado Teixeira sofreu ameaças de policiais envolvidos com as matanças.
Justiça. O delegado geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro, disse que a própria população colaborou com a redução de chacinas na capital ao fazer denúncias anônimas. “Os autores tinham um alvo, mas também matavam inocentes, o que causava indignação. A própria sociedade teve a coragem para apontar os responsáveis, até para resgatar a Justiça em relação a quem morreu.”
Segundo Carneiro, mesmo com a redução das chacinas, a delegacia especializada será mantida, embora divida agora as atenções com latrocínios. “Não podemos baixar a guarda.”
Fonte: Estadão
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